Filosofia de remuneração: O que é e porque deve a sua empresa ter uma
28 de Abril, 2025
No mercado de trabalho atual, a transparência está intimamente ligada à confiança. De acordo com o estudo Global Human Capital Trends 2024, da Deloitte, 84% dos líderes concordam que, quanto mais transparente for uma empresa, maior será a confiança dos seus colaboradores.
Essa transparência pode – ou deve – verificar-se em diversos aspetos como a partilha de informações sobre estratégias, decisões, resultados e também sobre as políticas de remuneração.
No que diz respeito às políticas salariais e de benefícios extrassalariais, só é possível comunicá-las de forma transparente se os seus princípios orientadores foram claros, consistentes e tangíveis.
É precisamente esta ideia que está subjacente ao conceito de filosofia de remuneração. Descubra o que é e porque é que as organizações devem ter uma.
O que é a filosofia de remuneração?
A filosofia de remuneração refere-se à formalização dos princípios que estão na base dos salários e benefícios extrassalariais atribuídos aos colaboradores. Esta filosofia clarifica porque é que as pessoas recebem o que recebem.
Uma boa filosofia de remuneração garante o alinhamento entre a política salarial da empresa – e respetivo plano de benefícios – e os seus valores e cultura organizacional. Além disso, deve atender não só os objetivos de negócio como as necessidades e expetativas dos colaboradores.
Enquanto a filosofia de remuneração funciona como uma declaração dos princípios e crenças da empresa em relação à compensação dos colaboradores, as políticas de remuneração são a materialização desses princípios e crenças.
Exemplos de filosofias de remuneração
As organizações podem construir a sua filosofia de remuneração com base em diferentes critérios e princípios. Conheça alguns exemplos.
1 – Filosofia com base no mercado
Nestes casos, as empresas têm como referência os dados do seu setor de atividade e da localização geográfica dos colaboradores para definirem uma política de remuneração e benefícios que seja competitiva.
O princípio desta filosofia é o alinhamento com as práticas do mercado no qual a empresa de insere.
2 – Filosofia com base no desempenho
Associar a compensação dos colaboradores ao seu desempenho é um dos princípios mais comuns na construção de uma filosofia de remuneração.
Quando os profissionais sentem que são devidamente recompensados pela sua produtividade e performance, tendem a sentir-se mais motivados e envolvidos. Por seu turno, as organizações ficam em melhor posição de reter os seus talentos e de atingir os seus objetivos estratégicos de negócio.
3 – Filosofia equitativa
Esta filosofia de remuneração está alicerçada na ideia de que pessoas que desempenham a mesma função devem receber a mesma remuneração, independentemente das suas características individuais (como a idade, o género, a nacionalidade, a localização geográfica ou outras).
A equidade salarial é uma métrica cada vez mais monitorizada e, em junho de 2023, foi publicada a Diretiva Europeia sobre Transparência Salarial, que visa combater a discriminação remuneratória e reduzir as disparidades salariais.
Este é um tema particularmente crítico em Portugal que, de acordo com a avaliação feita pelo Instituto Europeu para a Igualdade de Género (EIGE) no Índice da Igualdade de Género 2024, foi o único país da UE a piorar em matéria de igualdade no trabalho.
4 – Filosofia flexível
Esta abordagem permite que a organização considere vários fatores, objetivos e subjetivos, na definição de uma política de remuneração. Esses fatores podem incluir, por exemplo, uma combinação entre estudos de mercado (um critério objetivo) e medidas da própria empresa (que podem ter critérios subjetivos).
Embora esta filosofia de remuneração apresente a vantagem de conseguir adaptar-se a necessidades e contextos específicos, pode, igualmente, desencadear situações de desigualdade ou até discriminação.
5 – Filosofia personalizada
Este modelo baseia-se nas condições do mercado, no desempenho individual e no desempenho do negócio. Na prática, trata-se de estabelecer determinados objetivos e patamares que, quando atingidos, têm uma determinada recompensa associada: por exemplo, um aumento salarial, um bónus ou uma promoção.
Esta filosofia tende a motivar os colaboradores e as equipas a atingirem os objetivos definidos, ao mesmo tempo que promove a competitividade da empresa.
Porquê ter uma filosofia de remuneração clara?
Criar uma filosofia de remuneração pode ser um trabalho complexo e deve envolver as equipas de recursos humanos e de finanças, assim como as lideranças. Mas as vantagens de ter uma filosofia de remuneração clara devem querer fazer a sua empresa percorrer esse caminho.
Essas vantagens verificam-se ao nível da:
- Atração de talentos: a “guerra por talentos” é uma realidade em muitos setores de atividade e ter uma filosofia de remuneração é uma ferramenta de employer branding, permitindo que a empresa se destaque da concorrência e consiga atrair profissionais qualificados;
- Retenção dos profissionais: a existência de uma filosofia de remuneração transparente e justa contribui para aumentar a satisfação e motivação dos colaboradores, que tendem a envolver-se mais e a perspetivar a sua continuidade e progressão na organização;
- Equidade: embora possam existir algumas exceções (que considerem fatores como a antiguidade ou a experiência, por exemplo), a generalidade das filosofias de remuneração promove um sentimento de justiça e igualdade, o que também tem um impacto positivo na satisfação dos colaboradores;
- Experiência do colaborador: a comunicação clara de uma filosofia de remuneração torna as interações entre empresa e trabalhador – nomeadamente as interações respeitantes a temas como a compensação e benefícios – mais objetivas e menos ambíguas, melhorando assim a experiência dos colaboradores;
- Competitividade da empresa: ao ter uma filosofia de remuneração atrativa, a empresa vê melhorada a sua capacidade atração e retenção de talentos, o que a torna mais competitiva no seu setor de atividade e no mercado de trabalho.